Janot pediu autorização ao STF
para instaurar inquérito destinado a apurar obstrução à Justiça na Operação
Lava Jato pelos peemedebistas
Por Estadão Conteúdo
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Renan Calheiros e José Sarney: para Janot, "o tráfico de influência é apenas uma das vertentes utilizadas por esses grupos" |
São Paulo – Ao pedir autorização
do Supremo Tribunal Federal para a instauração de inquérito destinado a apurar
o crime de embaraço à Operação Lava Jato – formalmente embaraço à Justiça –
supostamente cometido pelo ex-presidente José Sarney, os senadores do PMDB
Renan Calheiros (AL) e Romero Jucá (RO), e o ex-presidente da Transpetro Sérgio
Machado, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, se refere ao grupo
como “quadrilha” e “organização criminosa”.
“Está em curso um plano de
embaraço da investigação por parte de integrantes da quadrilha e seus
associados. Como sói acontecer em organizações criminosas bem estruturadas, o
tráfico de influência é apenas uma das vertentes utilizadas por esses grupos”,
afirma Janot.
No documento, Janot afirma que a
atuação da Lava Jato, que resultou na prisão de dezenas de pessoas e
recuperação de milhões em dinheiro desviado, gerou “grande preocupação de todos
os integrantes da organização criminosa”.
“Esse temor, no caso do núcleo
político, gestou um plano para obstrução da Operação Lava Jato, com a
utilização desvirtuada das funções e prerrogativas do Poder Legislativo,
cooptação do Poder Judiciário e desestruturação, por vendita e preocupação
contra futuras atuações, do Ministério Público”, afirma o procurador no documento.
Segundo o procurador-geral, houve
uma “atuação planejada e concentrada de congressistas” para, entre outras
coisas, dificultar que investigados e réus celebrem acordos de colaboração
premiada, rever e reduzir os poderes do Ministério Público e anistiar agentes
públicos envolvidos.
Janot também descreve a atuação
do grupo para tentar exercer tráfico de influência junto ao então ministro
relator das ações penais no Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki.
O pedido se fundamentou no termo
de colaboração premiada assinado por Machado, no qual são transcritos trechos
de mais de seis horas de conversas gravadas com Sarney, Jucá e Renan.
Para o procurador, as conversas
“demonstram a motivação de estancar e impedir, o quanto antes, os avanços da
Operação Lava Jato em relação a políticos, especialmente do PMDB, do PSDB e do
próprio PT, por meio de acordo com o Supremo Tribunal Federal e da aprovação de
mudanças legislativas”.
Segundo o procurador-geral, o
objetivo dos congressistas era “construir uma ampla base de apoio político para
conseguir, pelo menos, aprovar três medidas de alteração do ordenamento
jurídico em favor da organização criminosa – 1) proibição de acordos de
colaboração premiada com investigados ou réus presos; 2) a proibição de
execução provisória da sentença penal condenatória mesmo após rejeição dos
recursos defensivos ordinários, o que redunda em reverter pela via legislativa
o julgado do STF que consolidou esse entendimento; 3) e a alteração do
regramento dos acordos de leniência, permitindo celebração de acordos
independente de reconhecimento de crimes”.
Janot argumenta que há “elementos
concretos de atuação concertada entre parlamentares, com uso institucional
desviado, em descompasso com o interesse público e social, nitidamente para
favorecimento dos mais diversos integrantes da organização criminosa”.
Defesas
Renan se manifestou por meio de
sua assessoria. “O senador Renan Calheiros esclarece que não fez nenhum ato
para embaraçar ou dificultar qualquer investigação e que sempre foi
colaborativo, tanto que o Supremo Tribunal Federal já manifestou contrariamente
à pedido idêntico.”
O criminalista Antônio Carlos de
Almeida Castro Kakay, defensor do senador Romero Jucá e do ex-presidente José
Sarney, também falou sobre a instauração do inquérito.
“Se houve crime este teria sido
praticado pelo ex-diretor da Transpetro Sérgio Machado, autor das gravações que
dão sustentação ao pedido de inquérito do procurador-geral da República Rodrigo
Janot, que atribui aos peemedebistas suposta obstrução à Operação Lava Jato”.
“Eu acho que esse pedido é um
pouco consequência, quase que natural, daquele pedido de prisão (dos peemedebistas)
que foi feito (por Rodrigo Janot) e que foi um fiasco. Nas gravações realizadas
por Sérgio Machado não tem nenhum sinal de qualquer tentativa de obstrução.
Temos que fazer uma reflexão mais profunda sobre essa hipótese de tudo ser
obstrução à Lava Jato”, escreveu.
“Quando se discutia a Lei de
Abuso da Autoridade os procuradores foram ao Congresso e alardearam que estava
havendo obstrução da Lava Jato. Ora, o projeto é de 2009, a Lava Jato nem
existia. Depois, quando se criticava a prisão (de condenados) em segunda
instância também vieram os procuradores e alegaram que isso iria paralisar a
Lava Jato. Quer dizer, a Lava Jato é importantíssima, seus resultados são
fantásticos, mas o País existe também fora da Lava Jato.”
“Pegar senadores discutindo modificação
legislativa, que é a função deles, e dizer que estão tramando contra a Lava
Jato é o mesmo que três ou quatro advogados criticarem a operação e, por isso,
serem acusados de obstruírem a Justiça. Se algum jornalista fizer um olhar mais
crítico à Lava Jato vão dizer que ele quer obstruir a Lava Jato.”
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