Ex-diretor da Petrobras afirmou
que, em 2010, mandou entregar R$ 2 milhões em espécie para a campanha à
reeleição da ex-governadora
POR ANDRÉ DE SOUZA, de O GLOBO
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Roseana Sarney presta depoimento na PF |
BRASÍLIA - A ex-governadora do
Maranhão Roseana Sarney (PMDB), investigada na Operação Lava-Jato, prestou
depoimento nesta segunda-feira na Polícia Federal (PF). Segundo o advogado
Antônio Carlos de Almeida Castro, mais conhecido como Kakay, ela negou qualquer
participação em irregularidades investigadas na operação, que apura
principalmente atos de corrupção envolvendo a Petrobras. De acordo com Kakay, o
depoimento durou cerca de uma hora.
As acusações contra Roseana foram
extraídas de depoimento do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo
Roberto Costa. Ele está colaborando com a Justiça em troca da redução da pena
por meio de um acordo de delação premiada. Paulo Roberto afirmou que em 2010
mandou entregar R$ 2 milhões em espécie para a campanha à reeleição da
governadora, a pedido do então ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, hoje
senador pelo PMDB do Maranhão. De acordo com Paulo Roberto, ele se reuniu
pessoalmente com Lobão, que teria lhe feito o pedido.
Paulo Roberto também declarou que
se encontrou várias vezes com Roseana, seja no Palácio dos Leões, sede do
governo do Maranhão, ou na casa da própria Roseana. E que, nas reuniões onde
estavam apenas os dois, ela sempre perguntava se estava tudo acertado.
— Roseana nunca teve contatos pessoais
com Paulo Roberto. Foi um depoimento muito tranquilo. Acho que inquérito está
fadado a ser arquivado. Está baseado em Paulo Roberto, que ora diz uma coisa, ora
diz outra — criticou Kakay.
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Na segunda-feira, no mesmo
inquérito, Lobão prestou depoimento na PF. Na ocasião, segundo Kakay, ele
também negou qualquer participação nas irregularidades. O advogado, inclusive,
já apresentou um recurso para arquivar o inquérito. Ele destaca que Paulo
Roberto Costa entrou em contradição em outro depoimento, negando já ter falado
reservadamente com Roseana. Segundo Kakay, os encontros entre Roseana e Paulo
Roberto se davam na presença de outras autoridades, como a presidente Dilma
Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Na delação premiada, Paulo
Roberto afirmou que o pagamento foi encaminhado ao doleiro Alberto Youssef, mas
não soube dizer se foi ele mesmo que entregou o dinheiro ou se teria mandado um
funcionário. O dinheiro teria saído "de uma espécie de caixa da
propina", que era administrado por Youssef. O doleiro, no entanto, disse
que nunca manteve contato com Roseana ou com Lobão. Mas revelou que em 2010, a
pedido de Paulo Roberto, entregou pessoalmente num hotel em São Paulo, R$ 2
milhões a um homem que o aguardava no quarto.
Ele disse não se lembrar o nome
do interlocutor, mas afirmou acreditar que poderia se tratar de um motorista,
porque "não parecia ser o dono do valor ou uma pessoa mais sofisticada,
pelo tipo de roupa e pelo terno que utilizava". Youssef também observou
que, sobretudo no início do trabalho conjunto com Paulo Roberto, o ex-diretor
nem sempre dizia o nome do destinatário do dinheiro.
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