Ex-presidente José Sarney Foto: Divulgação/Folha de S. Paulo |
Após pedido de um aliado, o
ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) prometeu fazer um “aceno” pelo prefeito de
Santa Inês (MA) Ribamar Alves, que foi preso em flagrante, no dia 29 de
janeiro, pelo crime de estupro de uma jovem de 18 anos.
Alves ficou quase um mês no
Presídio de Pedrinhas (MA), conhecido pelas constantes rebeliões violentas.
O “aceno” foi prometido por
Sarney durante conversa em sua casa com o ex-deputado Chiquinho Escórcio
(PMDB-MA), aliado do ex-presidente. O diálogo foi gravado pelo ex-presidente da
Transpetro Sérgio Machado, delator da Operação Lava Jato.
No áudio feito em fevereiro e
obtido pela Folha, Chiquinho disse querer o apoio de Sarney para interferir
junto a desembargadores do Tribunal de Justiça do Maranhão para tirar Alves da
prisão. Ele justifica que isso seria interessante politicamente pois eles
teriam, com isso, a prefeitura “na mão”.
Sarney e Machado conversavam
sobre a Lava Jato quando foram interrompidos pela chegada do ex-deputado.
Machado lia para Sarney o pedido de busca e apreensão do qual foi alvo em um
desdobramento da operação no fim do ano passado.
Considerado integrante da tropa
de choque de Sarney, Chiquinho não se intimidou com a presença de Machado e
explicou seu plano. Ele afirmou ainda que o procurou a pedido da família de
Alves.
Ele inicia a fala dizendo que
reconhece o ressentimento entre Sarney e Alves, mas faz um apelo.
“Eu trouxe um assunto aí que é
político lá do Maranhão. Ribamar Alves está preso. Mandou (…) lhe procurar.
Quer sentar no seu colo, pedir perdão, fez tanta injustiça com o senhor, o
senhor foi amigo do pai dele, é, inclusive, padrinho do irmão dele. Está numa
situação… A mulher dele quer vir aqui”, afirmou o ex-deputado.
Na sequência, Chiquinho disse que
já tinha desenhado a estratégia para ajudar o prefeito de Santa Inês.
“Eu já tenho a saída toda
pontilhada. Quem são os nossos amigos e tal. Temos um voto [a favor] e um voto
contra. Está faltando um voto. Vou almoçar agora com o desembargador que pode
ser esse desembargador ou [inaudível]”, completou.
‘PREFEITURA NA MÃO’
O ex-deputado disse que iria
fazer as tratativas com Franklin Seba, que é presidente da Câmara de Vereadores
de Santa Inês e aliado do prefeito que fora preso.
“Como o negócio é na
quinta-feira… para ver como a gente faz. Eu sei que o senhor tem coração deste
tamanho. Aí eu disse, acho até que é interessante politicamente porque nós
podemos ter aquela prefeitura na mão”, afirmou.
Chiquinho pede uma posição de
Sarney sobre o caso. “O que eu puder ajudar, eu ajudo”, disse o ex-presidente.
“Ele [Seba] quer saber se o
senhor recebe para conversar essa ladainha toda com o senhor. Acho que é
importante. Ele veio do Maranhão por conta disso”, reforçou.
Sarney questionou: “Para
conversar comigo?”
Chiquinho explicou a posição. “É,
eu venho com ele. Converso com o senhor e o senhor diz que o Chiquinho toma
conta. Eu tenho a saída tanto lá como aqui. […] O senhor já perdoou tanta gente.”
“Eu não tenho nada disso”,
disparou o ex-presidente. “Posso fazer aceno… Uma hora que você vier aí, você
vem com ele.”
Animado, Chiquinho deixou a
conversa sustentando que iria para o almoço com o desembargador e retornaria
para a casa de Sarney e afirmou: “já viu né, é desse jeito. Um beijão no
coração”.
No dia 25 de fevereiro, Alves
passou a cumprir pena alternativa em substituição à prisão. A decisão foi da
Segunda Câmara Criminal do TJ do Maranhão por 2 votos a 1. O julgamento foi
justamente numa quinta-feira, como havia dito o ex-deputado na conversa com
Sarney.
Segundo procuradores, o diálogo
gravado por Sérgio Machado teria ocorrido dois dias antes da decisão do TJ.
OUTRO LADO
A defesa do ex-presidente José
Sarney afirmou que ainda não teve acesso às gravações feitas pelo ex-presidente
da Transpetro. O advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, afirmou,
no entanto, que não identificou nos trechos relatados nenhum indício de conduta
criminosa.
O ex-deputado Chiquinho Escórcio
(PMDB-MA) afirmou inicialmente à reportagem que não se recordava da conversa.
Em um segundo contato, disse que na verdade foi procurado pela mulher do
prefeito e por um vereador da cidade em busca de um contato com Sarney para
ajudá-lo.
Negou, porém, que tenha se
encontrado com um desembargador que julgaria o caso de Ribamar Alves.
Escórcio disse que avisou Sarney
do contato, mas que o ex-presidente estava adoentado e não pôde recebê-los.
Afirmou ainda que não tomou nenhuma medida para ajudar o prefeito. “O que eu
poderia fazer?”, disse.
Procurados, Alves e Franklin Seba
não foram localizados pela reportagem para comentar o diálogo. Fonte: Folha de
S.Paulo
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