Por Simplício Araújo
O Populismo é hoje o grande fenômeno político da atualidade,
pela primeira vez na história do mundo vários países são atingidos por uma
mesma onda, o populismo se tornou nos dias de hoje, quase global. Além de
Trump, nos EUA, temos Bolsonaro por aqui, Vladimir Putin na Rússia, o fenômeno
ainda se repete nas filipinas, escandinávia, Itália e casos extremos como o da
França, onde temos a esquerda La France Insoumise com Jean-Luc Mélenchon versus
a extrema-direita com a filha de Jean-Marie Le Pen, Marine Le Pen pela Frente
Nacional (Rassemblement National), também existem similaridades nos discursos e
posições defendidas pela direita populista e a direita na Suíça, Polônia e
Holanda, Turquia além de muitos países do norte, do sul, do leste e do oeste.
Estamos vivendo o quarto movimento de uma onda que vai e
volta desde o século XIX, tendo conseguido sobreviver às três primeiras. Sempre
com a mesma retórica, Governantes populistas geralmente usam bodes expiatórios
e teorias conspiratórias ao explicar as dificuldades que os países passam, ao
mesmo tempo em que se vendem à população como salvadores da pátria. A mais
dramática dessas ondas aconteceu entre as duas guerras mundiais com o advento
do fascismo e do nazismo. As outras três ondas aconteceram ao fim do século
XIX, com a grande depressão capitalista que além deteriorou o crescimento e a
prosperidade que a Europa havia desenvolvido desde o começo da baixa idade média
e trazendo a “peste negra”, a “grande fome” e as guerras com a de “cem anos”. A
segunda onda de populismo, que foi a mais danosa para o mundo, entre as duas
guerras e a terceira, em alguns países, após a segunda guerra mundial entre
1939 e 1945.
A estrutura conceptual do populismo tem sido formada pelos
perdedores e ganhadores da globalização. A globalização trouxe muitas vantagens
econômicas e retirou milhões de pessoas da extrema pobreza, especialmente em
países pobres, no entanto, mesmo com o lado positivo, existem os que são
fortemente atingidos, perdendo posições e que querem o seu mundo (totalmente
fechado) de volta.
A globalização e o populismo são como água e fogo.
Contradição que se tornou gigantesco desafio atual, pois em não havendo
possibilidade de coexistirem juntos, prejudica a globalização e leva o
populismo ao seu maior impasse, ou seja, a incapacidade de gerir a política.
A esquerda em âmbito global falhou ao não saber oferecer um
caminho moderno e saudável para a globalização, com isso todo o debate foi
arrastado de suas mãos pelas direitas globalizada e liberal ou pela direita
nacionalista e hostil à globalização. A esquerda em todos os lugares do mundo,
ficou a “ver a banda passar”.
O populismo não representa um regime nem uma doutrina, mas
uma situação, geralmente oriunda de crise profunda, de falta de confiança na
relação entre o povo e as instituições públicas. Esta degradação na relação
impulsiona à uma espécie de formula de resposta global, com a personalização de
um “salvador da pátria”, mobilização da população e forte disseminação em massa
de informações. Claro que após essa “receita de bolo” em âmbito global, os
caminhos em cada nação são enormemente diferentes, ainda que todos mantenham em
comum o erro de exagerar o peso da nação no contexto da globalização, como
apontam diversos pensadores e economistas.
O distanciamento entre o povo e as instituições é justificado
pelo consolidado sentimento de que elas não funcionam democraticamente, que são
ineficientes ou incapazes de prover a sociedade com serviços básicos como saúde
e proteção. Decorre de uma crítica global as elites, políticos e instituições.
Movido pelo mesmo sentimento em qualquer lugar do planeta, o medo.
No brasil, não preciso alongar este texto enumerando quais
medos tomam contam da sociedade e quais frustrações alimentam a onda de
populismo que começa a se instalar no país.
O governo populista de Bolsonaro foi eleito para fornecer
respostas a diversos gargalos que a crise econômica, política, moral e de toda
espécie impuseram ao país.
Reformas políticas, tributarias, previdenciárias, no
judiciário e tantas outras são necessárias e urgentes, no entanto, parece que o
atual governo já perde importante vantagem no credito perante a população para
propor algumas delas.
A fragilidade de uma base partidária “formada nas cochas”, o
caso “Queiroz” e a total falta de experiência administrativa e política da
equipe tem sido um alarme preocupante que aponta para um desastre sem
precedentes numa gestão federal.
A falta de experiência, o salto alto de alguns ministros, de
militares e da própria família do Presidente fazem com que as negociações das
importantes medidas fortaleçam o toma-lá-dá-cá no congresso, podendo levar em
breve à população o sentimento de que se trocou seis não por meia dúzia, mas
por quase nada.
Até aqui o governo só produz blá-blá-blá e divergências
internas, nenhuma outra proposição além da reforma previdenciária deixada pelo
governo Temer, chegou ao congresso ou é de conhecimento da população. A única
atitude até o momento que marca o governo populista de Bolsonaro é a
“militarização” de ministério e pastas importantes, não se tem anúncios ou
decisões concretas sobre as causas que levaram o Presidente ao poder, como
combate a violência, ao desemprego, caos nas estradas, na saúde e o paquiderme
histórico da burocracia que irrita o brasileiro e afasta investidores.
O que alimenta e dá sobrevida a qualquer governo populista é
sua capacidade de dialogar com as massas, esse diálogo foi alimentado pelo medo
comum que nos assusta a todos, mas doravante é necessário que seja sustentado
pelas propostas para a resolução dos problemas, não estamos mais em campanha,
já são quase sessenta dias de governo.
A reforma da previdência será uma importante demonstração de
capacidade política e de gestão para a virada política que precisamos. Se o
governo Federal se render as negociatas do congresso na votação, pois as
declarações de Rodrigo Maia, Presidente da Câmara, apontaram claramente para
isso, estaremos todos assistindo a vitória da política atrasada e carcomida
jogando fora uma grande oportunidade de garantir a saúde financeira de diversos
estados brasileiros e devolver ao país a capacidade de voltar a crescer,
comprovando com isso também o primeiro fracasso do governo populista de
Bolsonaro.
Fracasso que já é trilhado por boa parte da esquerda, alguns
que além de não compreender a onda, insistem em surfar “na maionese” ao se
agarrar no passado, quando deviam apresentar uma nova proposta, com novos
caminhos e novos nomes para a retomada do crescimento e segurança social que
todos almejam.
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