Por Alex Rodrigues - Repórter da Agência Brasil - Brasília
Sérgio Moro, ministro da Justiça e Segurança Pública |
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, disse hoje (19) que aceitou o convite para ocupar um posto no governo federal em novembro de 2018, com o propósito de consolidar o trabalho que vinha sendo realizado pela força-tarefa da Lava Jato, que apura casos de corrupção.
“Nós trabalhamos por cinco anos nestas operações
anticorrupção”, disse o ministro ao participar de audiência da Comissão de
Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado, referindo-se ao trabalho de
magistrados e de procuradores da República. “[Durante este tempo] fui atacado
cotidianamente por aqueles que não queriam mudanças no padrão de combate à
impunidade da grande corrupção. Sempre restou uma sombra de um [eventual]
retrocesso. De que, com uma mudança, uma virada de mesa, tudo aquilo que
tivesse sido feito seria perdido. Eu vi no convite para ser ministro da Justiça
e Segurança Pública uma oportunidade para consolidar estes avanços
anticorrupção e avançar no combate ao crime organizado e à criminalidade
violenta. Foi por isto que aceitei ser ministro e é isto que estou fazendo”,
afirmou Moro, garantindo jamais ter atuado “em conluio” com os procuradores.
“Minhas decisões eram submetidas a instâncias recursais. Acho
que nunca um juiz teve tantos recursos propostos contra suas decisões, porque
os casos eram difíceis. Eram recursos de pessoas poderosas apresentados ao
tribunal, ao Superior Tribunal de Justiça e ao Supremo Tribunal Federal. E quem
foi condenado, o foi com base nas provas de que cometeu corrupção, grande
corrupção. O que houve foi uma captura da Petrobras para atender a interesses
especiais de agentes públicos e privados inescrupulosos”, acrescentou o
ministro, reafirmando jamais ter atuado com base em convicções ideológicas.
Para consubstanciar sua afirmação, o ministro lembrou que em
45 das 90 denúncias apresentadas pelo Ministério Público Federal já foram
proferidas sentenças. Destas, o MPF recorreu em 44. “Aqui há um indicativo
claro de que não há conluio, mas sim divergências”, completou Moro,
acrescentando que 291 pessoas foram acusadas e 211 condenadas, contra 63
absolvições. “Outro indicativo de que não há qualquer espécie de convergência
absoluta entre o MPF e o juiz ou entre a polícia e o MPF.” Além disso, dos 298
requerimentos de prisões cautelares, 91 foram negados.
O próprio ministro tomou a iniciativa de ir ao Senado para
apresentar sua versão sobre as supostas conversas que teria mantido com
integrantes da força-tarefa quando ainda era juiz da 13ª Vara da Justiça
Federal em Curitiba, onde são julgados os processos da Lava Jato que tramitam
no Paraná.
Cópias das supostas conversas mantidas por meio de um
aplicativo de troca de mensagens por celular foram entregues por uma fonte
anônima ao site The Intercept Brasil, que, desde o dia 9 de junho, vem
publicando reportagens com base nos diálogos atribuídos ao ministro Sergio Moro
e aos procuradores, entre eles, o coordenador da força-tarefa, o procurador
Deltan Dallagnol.
Ministros e procuradores afirmam que foram alvo da ação de
hackers com objetivo de atacar a Lava Jato e as instituições da República, Moro
e Dallagnol têm questionado a autenticidade das mensagens. Eles afirmam não ter
como comparar os trechos divulgados com eventuais conversas que tenham mantido
há mais de dois anos. Segundo eles, as conversas, além de descontextualizadas,
podem ter sido adulteradas. A PF está investigando a suposta ação de hackers.
Hoje, Moro disse acreditar que há um grupo criminoso
organizado por trás da divulgação das supostas conversas. “Quem faz estas
operações de contrainteligência não é um adolescente com espinhas na cara, na
frente de um computador, mas sim um criminoso estruturado”, declarou Moro,
cobrando que a equipe do site The Intercept Brasil entregue todo o conteúdo a
que teve acesso às autoridades competentes em que confie para que seja apurada
a autenticidade dos arquivos. O ministro garante ter entregue seu celular
pessoal à Polícia Federal tão logo percebeu que pode ter sido alvo de ataques a
seu aparelho.
The Intercept
Nas reportagens, o site afirma que Moro infringiu o código da
magistratura ao colaborar com o Ministério Público Federal (MPF) ao,
supostamente, trocar informações sensíveis com os procuradores da República.
Para o veículo, Moro ajudou a instruir o processo penal, sugeriu ordem de
deflagração de operações policiais e indicou testemunhas a serem ouvidas pela
acusação. O site não revela a origem das mensagens que afirma ter recebido de
uma fonte anônima. A Constituição Federal reserva a todo jornalista o direito
de não revelar suas fontes de informações.
CCJ
A reunião na CCJ começou as 9h20, com 20 minutos de atraso. A
previsão é de que, após a fala do ministro Moro, os senadores inscritos,
intercalados por ordem de partido, tenham cinco minutos para perguntas. O
ministro terá o mesmo tempo para resposta e, depois, os parlamentares terão
prazo máximo de dois minutos para réplica e tréplica. Transmitida pelas redes
sociais do Senado, a reunião permite a participação da população, que pode
enviar perguntas por meio dos canais oficiais.
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