O nome de Esperança Garcia traz consigo a potência de uma
história de luta e não resignação diante de injustiças. A escravizada piauiense
que há mais de dois séculos escreveu uma carta na qual denunciava violências
por parte do feitor da Fazenda Algodões, Sul do Piauí, se tornou símbolo para a
luta por justiça. Sua história e iniciativa a sagraram, há dois anos, como a
primeira advogada piauiense e, agora, inspira a efetivação de um Instituto que
também leva seu nome. O Instituto Esperança Garcia, que terá marco de fundação
no dia 29 de novembro, no auditório da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-PI),
nasce com intuito de promover educação em direitos humanos no Piauí.
A professora da Universidade Estadual do Piauí (UESPI) e
doutoranda em Direitos Humanos pela Universidade de Brasília (UnB), Andreia
Marreiro, uma das idealizadoras do projeto, explica o estímulo para a
consolidação da entidade. “O Instituto é um ninho para os projetos-sonhos que
estamos tecendo desde 2016. Temos a Pós-graduação em Direitos Humanos Esperança
Garcia; a Campanha Esperançar: vidas negras importam e mulheres negras precisam
ser escutadas; e o projeto memória Esperança Garcia. Um objetivo comum dessas
ações é o de educar para os direitos humanos, ao propor experiências de
educação com intencionalidade transformadora. Com o Instituto, acreditamos que
isso pode continuar chegando para mais pessoas”, destaca.
No foco dessas experimentações está o compromisso de
proporcionar a educação em direitos humanos com visão interdisciplinar,
feminista, antirracista, contra-colonialista e permeada por afeto e
criticidade. “Pensamos neste projeto com o que diz Paulo Freire: quem ensina
aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”, lembra Andreia,
destacando que os públicos alcançados pelas ações podem ser desde comunidades,
estudantes, empresas e demais sujeitos que acreditem na transformação do mundo
por meio do enfrentamento das estruturas do machismo, racismo, lgbtfobia e
tantas outras barreiras que subjugam e inviabilizam vidas cotidianamente.
Ao levar o nome de Esperança Garcia, o Instituto também
destaca a necessidade de pensar e lutar pelo direito à memória. “Acreditamos
que a memória de Esperança Garcia é um símbolo de resistência e fortalece a
luta do presente de enfrentamento ao racismo e a colonialidade. Temos que
entender que a luta pelo direito a memória não é uma questão nostálgica, é algo
necessário para entender o presente, da gente perceber que Esperança Garcia é
uma mulher negra do interior do Piauí e, não por acaso, teve sua história
silenciadas por séculos. As estruturas que a silenciaram sua voz são estruturas
que permanecem até hoje, temos que lutar para superá-las”, reforça.
O evento de lançamento do Instituto acontece dia 29 de
novembro, das 18h às 22h, no auditório da OAB-Piauí. Na oportunidade,
acontecerá também o lançamento da Quarta Turma da Pós em Direitos Humanos
Esperança Garcia; o livro “A negação da Liberdade”, da professora baiana
Gabriela Sá e a Campanha Esperançar com a Defensoria Pública do Piauí.
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