No governo, há quem avalie que
Castro corre sério risco de "morrer pela boca"
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A dificuldade em demitir Marcelo Castro está associada ao risco de impeachment, uma vez que Castro é uma indicação do deputado Leonardo Picciani, líder do PMDB na Câmara |
O governo avalia que o ministro
da Saúde, Marcelo Castro (PMDB), está desgastado e vem perdendo as condições
políticas de permanecer no cargo em razão de suas declarações polêmicas e da
ineficiência ao tratar do avanço da dengue e do zika. Nesta segunda-feira, 25,
em uma visita à Sala de Situação do Distrito Federal para Controle da Dengue,
em Brasília, o ministro voltou a dizer que o país está perdendo
"feio" a guerra contra o Aedes aegypti.
A expressão, a mesma adotada na
sexta-feira, 22, durante evento da Fundação Oswaldo Cruz, em Teresina, foi
considerada infeliz pelo Planalto, sobretudo num momento em que integrantes do
governo tentam traçar estratégia para mobilizar a população no combate ao
mosquito. "Nós estamos há três décadas com o mosquito aqui no Brasil e
estamos perdendo a batalha feio para o mosquito", disse.
No governo, há quem avalie que
Castro corre sério risco de "morrer pela boca". Segundo um
interlocutor do Planalto, o ministro já foi orientado a tomar mais cuidado com
suas declarações. Algo que ele dá mostras de ter dificuldade em colocar em
prática. À noite, após mais uma reunião no Planalto para debater um plano de
combate ao mosquito, ele sugeriu que governos anteriores foram condescendentes
na prevenção: "Nós temos 30 anos de convivência com o Aedes aegypti no
Brasil. Sem querer culpar ninguém, acho que houve uma certa contemporização com
o mosquito".
A dificuldade em demiti-lo,
porém, está associada ao risco de impeachment, uma vez que Castro é uma
indicação do deputado Leonardo Picciani (RJ), líder do PMDB na Câmara que tem
atuado em defesa do governo no Congresso e disputa a recondução ao cargo contra
o deputado Hugo Motta (PB), aliado do presidente da Câmara, Eduardo Cunha
(PMDB-RJ), responsável pela deflagração do processo de impeachment. Também pesa
a seu favor o fato de que Castro, apesar de desastrado, é considerado aliado
fiel da presidente e um auxiliar em batalhas travadas no Congresso.
Pressão
Mas a cada deslize, que começou
tão logo o peemedebista foi indicado para o cargo, o cerco contra ele se fecha
e nos bastidores discute-se sua saída. Na primeira declaração, antes mesmo de
tomar posse, afirmou ser favorável a uma contribuição sobre movimentações
financeiras. Ele sugeriu que ela deveria ser cobrada "no débito e no crédito".
Criticado, amenizou o discurso. Não voltou a falar em economia, mas passou a
fazer comentários considerados de gosto duvidoso e com potencial de desgaste.
Questionado sobre planejamento
familiar em tempos de zika e microcefalia, ele afirmou que "sexo era para
amadores; gravidez, para profissionais". Há poucas semanas, disse que
"torcia" para que mulheres fossem infectadas pelo zika antes do
período fértil, como forma de ganhar imunidade antes de a vacina ser
desenvolvida.
A falta de freio do ministro nos
comentários vem acompanhada do descontentamento no governo com a condução das
medidas contra o avanço de dengue, chikungunya e zika. A maior preocupação é a
ameaça do zika, vírus identificado no ano passado no País e associado à
epidemia de microcefalia, má-formação que pode comprometer o desenvolvimento da
criança. Castro já disse ser necessário trabalhar para evitar o surgimento de
uma "geração de sequelados".
Uma das estratégias usadas pelo
governo foi criar uma Sala Nacional de Coordenação e Controle para combate ao
mosquito e enfrentamento da microcefalia. A meta era visitar até o fim do mês
"todos os domicílios" do País, um objetivo audacioso e que teve de
ser adiado para o fim de fevereiro.
A presidente Dilma Rousseff já
deu sinais de não estar satisfeita com o trabalho de Castro. Ao sair ontem da
reunião com Dilma no Planalto, o ministro foi questionado se levou puxões de
orelha por causa das declarações polêmicas. Castro respondeu que não. Segundo
ele, a presidente está tão preocupada quanto ele em relação ao mosquito.
"A situação é grave, a situação é gravíssima. E nossa obrigação, como
agente público, é dizer, sem meias palavras, o que está acontecendo",
afirmou. Fonte: Agência Estado
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