Por Simplício Araújo
Uma verdadeira revolução ao financiamento das empresas
brasileiras está em gestação pelas mudanças que vêm ocorrendo desde 2018 e
alterando fortemente os mercados de crédito e de capitais no Brasil. Essas
novas condições podem ter efeito igual ou maior que a da reforma da
previdência, favorecendo igualmente a retomada do crescimento.
A grande ebulição que favorecerá o reaquecimento da economia
e de investimentos, possibilitando às empresas a ampliação do acesso a recursos
financeiros, diminuição dos custos de capital, aumento das possibilidades de
crédito e elasticidade da oferta, será fundamental para a utilização da grande
capacidade de produção ociosa existente atualmente em virtude dos seis longos
anos de recessão que vivemos no Brasil desde 2014.
As mudanças citadas aqui vão trazer aumento de produtividade
e de eficiência na alocação de recursos no mercado e devem vir com redução do
crédito direcionado e expressivo aumento da participação do mercado de
capitais. As novidades irão garantir menos riscos nas operações de crédito,
possibilitando aumento de oferta de ao consumidor, premissa básica para o ciclo
de aquecimento da economia.
Os elementos principais desse novo cenário são as inovações
regulatórias da agenda BC+, a nova política de crédito do BNDES e as atuais
taxas de juros.
As taxas de juros baixas ajudam a reaquecer o consumo e a
puxar o PIB para cima, a expectativa é a manutenção das taxas assim por um
longo período, favorecendo maior oferta de crédito barato às pessoas e às
empresas. A nova disposição em priorizar financiamentos de projetos de
infraestrutura, inovação e focar em pequenas e médias empresas, com preferência
para mercado de capitais que poderá fazer uso dos recursos do BNDES para
complementar e ampliar crédito em startups são dois pontos importantes que
casam perfeitamente com as inovações regulatórias que o Banco Central trabalhou
nos últimos meses.
O Sistema Financeiro Nacional, SFN, passa por uma avalanche
de inovações tecnológicas que visam baratear o crédito, aumentar a eficiência
do sistema e promover a cidadania financeira, esse movimento já atingiu outros
segmentos econômicos, transformando alguns de forma significativa, chegando
agora ao centro financeiro.
De olho nisso, o Banco Central, através da agenda BC+, desde
2018 já permitiu o surgimento de mais 300 “fintechs”, também desde 2018 criou o
registro de diretos creditórios com empresa credenciada no Banco Central e a
duplicata eletrônica que entra em vigor no próximo dia 21 deste mês e irá
permitir ganho de segurança e a redução de custos operacionais na gestão das
duplicatas, aumento de acesso ao crédito e taxas de juros mais baixas para o
produtor e o comerciante.
O cadastro positivo, aprovado em 8 de abril deve funcionar em
outubro com previsão de chegar a 120 milhões de cadastros e vai contribuir para
a diminuição de riscos nas operações de credito, importante ainda o anuncio
recente do “open Banking” que deve atuar a partir de 2020.
Resumindo, com as informações do cadastro positivo, que antes
pertencia apenas aos grandes bancos, bancos de médio porte, “fintechs” e FIDCS
poderão usar esses dados para gerar avaliações de riscos mais eficientes. O uso
de duplicatas eletrônicas registradas por empresas cadastradas no Banco
Central, propiciará redução de custos, de riscos operacionais e fraudes podendo
ser usadas como garantia de empréstimos ou lastro de operações de crédito
diversas.
Essas novidades vão melhorar a gestão de risco de crédito em
favor dos bons pagadores, possibilitar a ampliação de instrumentos financeiros,
redução do custo de aquisição do crédito e amentar a concorrência no mercado de
crédito, melhorando o fluxo de conformidade e acelerando as operações.
A oferta de crédito deve ser aumentada especialmente no
financiamento do capital de giro com a garantia de recebíveis (FIDCS) e forte
oferta de fundos privados, beneficiando as pequenas e médias empresas, mediante
uso das duplicatas eletrônicas, agora com poder de instrumento financeiro com o
funcionamento da centralização de registro das mesmas junto a empresas
credenciadas pelo Banco Central.
O Departamento de regulação do SFN do Banco Central do Brasil
calcula a injeção de R$ 1 trilhão na economia, acima dos atuais R$ 700 bilhões
projetados para a reforma da previdência. A Associação Nacional dos Bureaus de
Crédito aponta aumento de R$ 790 bilhões de crédito a empresas nos próximos
anos, mais de 50% que o atual saldo em oferta no mercado, R$ 550 bilhões desses
seriam para MPMEs. A Serasa Experian
divulgou recente estudo prevendo aumento do saldo de crédito no Brasil,
passaríamos de 47% para 67% do PIB disponíveis, também apontando a pequena e
média empresa como destinatária.
Com todas essas perspectivas, a economia brasileira caminha
para fortalecer o Sistema Financeiro Nacional, principalmente em momentos de
crise, melhorando a funcionalidade dos instrumentos disponíveis e alocando a
poupança para contribuir com o crescimento econômico, diminuindo os impactos da
crise sobre o fluxo financeiro e financiamento das empresas, consequentemente
sobre o emprego e a capacidade de produção.
E você, já preparou sua empresa para as mudanças apontadas
levemente no texto acima?
* Simplício Araújo
é Secretário de Indústria, Comércio e Energia do Estado do Maranhão e escreve
todas as quartas-feiras no Jornal
Pequeno.
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