Romoyuki Gonçalves era natural de Cocal, no interior do
Piauí. Na foto, ele ao lado do filho caçula e da esposa
Foto: Reprodução Facebook
A empresária Flaviana Gonçalves, 40 anos, teria sido obrigada
a dirigir o carro em que seu corpo foi encontrado carbonizado, junto com os do
marido e do filho, dentro do porta-malas, na madrugada de terça-feira (28), em
São Bernardo do Campo (ABC), segundo a polícia. Pouco antes, por volta de 1h15,
o porteiro do condomínio onde a família morava, em Santo André, também no ABC,
teria visto a empresária saindo com o carro da família, também de acordo com a
polícia.
Em entrevista nesta quinta-feira (30), o delegado seccional
de São Bernardo, Ronaldo Tossunian, afirmou que o comerciante Romoyuki
Gonçalves, 43 anos, e o filho do casal, Juan Gonçalves, 15, teriam sido
colocados mortos no veículo dirigido pela mulher.
Ana Flávia Menezes Gonçalves, 24 anos, filha do casal, e a
namorada dela, Carina Ramos, 26, foram presas na noite desta quarta-feira (29),
por suspeita de envolvimento no crime, por determinação da Justiça. Flaviana
teria sido morta da mesma forma, mas não na residência, já que depois que o
veículo da família, um Jeep Compass, não voltou mais ao condomínio. Segundo
disse o porteiro à polícia, o Fiat Palio de Ana Flávia passou pela portaria
instante antes.
O casal e o filho adolescente foram achados carbonizados no
carro da família, no limite entre São Bernardo e Santo André, na madrugada de
terça. O carro foi queimado. Segundo a polícia, pai e filho foram mortos com
pancadas no lado direito da cabeça, dentro da casa onde moravam no condomínio
Morada Verde, em Santo André. A causa da morte dos três, segundo laudo
preliminar do Instituto Médico Legal, foi traumatismo cranioencefálico. Os
corpos, de acordo com a polícia, foram identificados pelas arcadas dentárias.
Segundo câmeras de monitoramento, o carro de Ana Flávia entra
e sai do condomínio três vezes, entre 18h16 e 22h12 de segunda-feira (27).
Neste meio tempo, às 20h09, ainda segundo as imagens, Carina entra a pé no
local, usando um moletom com capuz. "Chamou a atenção ela usar essa roupa,
pois estava muito quente neste dia", frisou o seccional. Uma testemunha
afirmou à polícia que antes de Flaviana chegar em casa com o Jeep, às 22h36, um
homem, de aproximadamente 1,90 metro de altura, foi visto com as duas
suspeitas.
O assassinato de pai e filho, ainda segundo a polícia,
ocorreu pouco antes de o empresário preparar o jantar. "Havia frango ao
lado de uma panela com óleo quente", disse o delegado Paul Henry Bozon,
que coordena as investigações. A polícia afirmou que Flaviana foi provavelmente
rendida e obrigada a dirigir o carro com os corpos do filho e marido no
interior. A investigação agora tenta descobrir se a mulher foi sequestrada
antes de chegar em casa, ou quando chegou ao local, após sair do trabalho em um
shopping de Santo André.
O delegado Bozon acrescentou que foram encontradas marcas de
sangue na região dos joelhos e na altura do zíper de uma calça de Ana Flávia,
que havia sido lavada. A identificação ocorreu mediante o uso de luminal
(substância que indica a presença de sangue que não pode ser visto a olho nu).
"Este crime foi feito com extrema crueldade e foi premeditado",
afirmou Bozon.
Contradições
A polícia disse que as duas suspeitas afirmaram, em
depoimento, que Juan, Flaviana e Romuyuki teriam sido mortos por um suposto
agiota, para quem a família deveria R$ 200 mil. "Elas também afirmaram que
houve uma discussão [na noite do crime] entre as suspeitas e a família", acrescentou
Bozon. As duas ainda afirmaram à polícia que, por conta da discussão, Flaviana
teria afirmado que sairia com o marido e o filho, para abastecer o Jeep e
viajariam para Minas Gerais. As suspeitas por isso, segundo depoimento,
resolveram também sair do imóvel -segundo a polícia, as duas moram juntas em
uma favela a cerca de 10 minutos do condomínio.
"Porém, a testemunha, que está protegida, conta uma
história que as desmente em tudo", afirmou o delegado. Segundo a
testemunha afirmou em depoimento, após a chegada de Flaviana, o Jeep foi
estacionado em frente à casa das vítimas, com o porta-malas voltado para o
imóvel. O homem, ainda segundo a testemunha, ajudou uma das duas suspeitas a
colocar grandes embrulhos no porta-malas do Jeep.
Imagens de câmeras de monitoramento mostram um quarto
suspeito a pé, do lado de fora do condomínio, segurando dois capacetes de moto
nas mãos, minutos antes de os carros saírem do local. Outro ponto de
contradição, segundo a polícia, é o em que as suspeitas em nenhum momento falam
sobre o sangue encontrado na casa, além de estar tudo revirado na residência.
Foram levados do local, ainda segundo a polícia, R$ 8.000, dólares, joias e uma
espingarda antiga. A arma, o dinheiro e as joias não foram encontrados. A
polícia solicitou a quebra do sigilo telefônico de Ana Flávia e Carina.
Perfis
O delegado Bozon afirmou que Ana Flávia e Carina demonstraram
comportamentos diferentes durante os depoimentos prestados nesta terça, no
Setor de Homicídios de São Bernardo do Campo –as duas foram ouvidas novamente
na tarde desta quinta-feira (30). Segundo o policial, Ana Flávia estava muito
nervosa. "Houve momentos em que ela não conseguia nem falar",
salientou. A filha do casal, inclusive, teria passado mal e vomitado, de acordo
com a polícia. Já Carina, ainda conforme o delegado, "é mais fria" do
que a namorada. "Ela se manteve calma enquanto contou sua versão",
afirmou o policial.
Outro lado
O advogado Lucas Domingos, que defende Ana Flávia e Carina,
afirmou que as duas negam participação e autoria no crime. Questionado sobre contradições nos
depoimentos delas, ele disse que quando tiver acesso ao inquérito do caso
verificará "quais são". "Também preciso ter acesso às filmagens
e falar melhor com elas para constatar se de fato existem contradições. Tenho
que ver o que posso fazer para ajudá-las." Ele afirmou que foi contratado
por uma amiga das suspeitas, que preferiu não identificar.
Fonte: FolhaPress
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