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Em praça pública, população fala sobre sumiço de prefeita / Foto: Biaman Prado |
A faixa hasteada em mastros na
frente da Câmara Municipal de Bom Jardim – pedindo “chega de corrupção” –
contrasta com o Aviso de Chamada Pública nº 001/2015, ainda afixado na parede
do próprio legislativo municipal.
O documento, assinado pela
prefeita Lidiane Leite (PRB) no dia 28 de janeiro deste ano, nunca foi retirado
do lugar. Era uma espécie de edital de licitação que convocava agricultores da
cidade para habilitar-se como fornecedores de gêneros alimentícios para a
Prefeitura Municipal, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar
(PNAE).
“Os interessados deverão
apresentar a documentação para habilitação e Projeto de Venda no período de 3
de fevereiro a 23 de fevereiro de 2015, das 08:00h as 12:00h, na sala da
Comissão Permanente de Licitação-CPL”, dizia o aviso.
Ainda está lá, logo atrás da
faixa pedindo o fim da corrupção, o nascedouro do esquema de desvio de verbas
públicas desbaratado na semana passada pela Polícia Federal, por meio da
Operação Éden.
Segundo a PF, todos os
agricultores convocados por meio deste edital e cadastrados na CPL receberam
pagamento como se houvessem fornecido produtos ao Município. Mas, além de nunca
terem efetivamente vendido nada à Prefeitura, também não ficaram com o
dinheiro.
“Os envolvidos na trama criminosa
saíram recolhendo essas pessoas, levando à boca do caixa no Banco do Brasil,
faziam com que sacassem o numerário e recolhiam esse dinheiro em proveito
próprio”, esclareceu Ronildo Lages, chefe da Delegacia de Repressão aos Crimes
Patrimoniais, em coletiva à imprensa na semana passada, ao relatar como a
quadrilha desviou, só do Pnae, pelo menos R$ 1 milhão.
Salários – Em Bom Jardim, praticamente uma semana depois do
desencadeamento da operação policial que culminou com a prisão dos
ex-secretários de Assuntos Políticos, Beto Rocha, e de Agricultura, Antônio
Cesarino, o assunto em qualquer roda de conversas é o sumiço da prefeita.
Lidiane Leite também teve a
prisão decretada pela Justiça Federal, mas até o fechamento desta edição ainda
não havia sido localizada pela polícia, nem se apresentado espontaneamente. É
considerada foragida.
Por enquanto, o comando da
máquina pública está sob a responsabilidade do secretário municipal de
Administração de Finanças, Dal Adler de Castro. Ele se negou a receber a equipe
de O
Estado que esteve na sede da Prefeitura na tarde de ontem.
Entre servidores públicos
municipais, há o temor de que os salários do mês de agosto, que teoricamente
devem ser creditados nas contas até o quinto dia útil do mês de setembro, não
sejam pagos.
“A nossa preocupação já é com o
pagamento do mês que vem”, relatou um guarda municipal, que abordou a
reportagem para tentar impedir o registro de imagens no Hospital Municipal
Adroaldo Alves Matos. Ele preferiu não se identificar.
O agende de endemias Raimundo
Linhares revela situação ainda pior entre os servidores da saúde municipal.
Segundo ele, a categoria ainda
não recebeu o salário de julho – que deveria ter sido pago no início de agosto
– e a expectativa é para novo atraso, no próximo mês.
“A situação está triste. Não tem
nada. Já está com dois meses atrasado. Fechando dois meses atrasado”, explicou
Linhares, que usa uma farda fornecida pela Secretaria Municipal de Saúde ainda
na gestão passada.
“Ainda hoje a farda é da gestão
passada”, completou, apontando a logomarca da gestão do ex-prefeito Roque
Portela, que antecedeu Lidiane Leite no Município.
Mais
Na noite de segunda-feira, o
advogado Carlos Sérgio, que assumiu a defesa da prefeita Lidiane Leite,
anunciou que já na terça-feira deveria protocolar um pedido de habeas corpus no
Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ontem, em novo contato com O Estado, ele
disse estar “nos últimos instantes para protocolar”, e acrescentou que iria
pessoalmente a Brasília, já na madrugada de hoje.
Texto do enviado especial de O
Estado, Gilberto Léda, que cumpre missão na cidade de Bom Jardim